Relatos. &. Depoimentos.
Vivência com o Shipibo e o Mapacho
– por Katiane Cruz, em outubro de 2025.
“Quando o Shipibo acendeu o mapacho e assoprou na minha cabeça, a sensação de completude veio imediatamente. Senti uma força materna entrar pelo topo da minha cabeça e preencher meu corpo. Essa energia me fez sentir, no útero, um acolhimento materno tão profundo e intenso que permaneci por horas em estado de êxtase. Foi uma sensação de preenchimento que permanece até hoje.
Passei a enxergar o mundo como uma grande rede de malhas transparentes, sobrepostas umas às outras. Cada camada vibrava em uma frequência sonora diferente, e percebi que, de acordo com o nosso estado vibracional, temos acesso a determinadas camadas. Entendi que a vibração dos insetos é muito próxima da nossa e que, quando estamos na mesma frequência deles, ocorre um tipo de interação — como as picadas, por exemplo. Quando nossa vibração muda, ainda conseguimos vê-los, mas o acesso vibracional deixa de existir. Vi também que, quando alguém se move, toda essa malha se movimenta junto — uma conexão invisível que une tudo e todos.
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Percebi que muitas de nossas atitudes se assemelham às dos insetos, que agem por estímulo e resposta. Assim como os mosquitos são atraídos pela luz e pelo doce, nós somos atraídos por telas luminosas e por alimentos açucarados. É como se, diante desses estímulos, nos tornássemos semelhantes a eles.
Senti que nossos piores sentimentos — inveja, ciúmes, gula, medo, vergonha — estão profundamente ligados à nossa alimentação. Quanto mais natural é o que comemos, mais próxima está a forma original do alimento, como foi gerado pela Mãe Terra. Quando nos alimentamos de comidas pouco processadas, preparadas de forma simples, conseguimos nos nutrir melhor das bênçãos sutis da Terra, energias que permanecem em nossos corpos físico e espiritual.
Durante a vivência, percebi a presença de uma energia antiga, como uma múmia, agarrada aos meus ovários. Senti que ela foi retirada pela espiritualidade. Logo depois, tive a sensação de estar sendo torcida, como uma toalha molhada, e que de mim saía tudo o que me fazia mal — todo o veneno absorvido de pessoas e situações negativas. Muitas vezes, por querer ser “boa” o tempo todo, aceitamos energias que nos prejudicam, sem discernimento. Nesse momento, compreendi a importância de integrar o bem e o mal, o quente e o frio, sem julgamentos.
Percebi que o sentimento de defesa precisa existir quando nos sentimos ameaçados ou explorados. Entendi que dentro de nós coexistem as duas forças — luz e sombra — e que negar uma delas cria a dualidade. Quando enxergamos apenas o bem, o mal se manifesta externamente e de forma desproporcional. Essa integração foi tão intensa que senti meu sangue gelar. Era como reviver a história de Adão e Eva e a Árvore do Conhecimento.
Depois, senti como se estivesse em uma escola no céu, com mestres preparando minhas asas. Vi meu rosto pronto, colorido e luminoso, e as asas começando a nascer nos ombros — belas e delicadas, como em um esboço de Leonardo da Vinci. Entendi que, em breve, eu poderia voar muito alto, em direção a Deus.
Nesse momento, vi meus três irmãos e meu sobrinho, especialmente o mais velho, fumando um cachimbo. Ele parecia compreender a existência de múltiplas dimensões acontecendo ao mesmo tempo. Foi um instante muito bonito e emocionante, como se tudo o que vivi tivesse me conduzido até ali.
Durante um dos ícaros dos Shipibos, fui guiada pelo canto a entrar em uma dimensão que parecia a própria expressão de Deus: um lugar perfeito, de luz dourada, onde reinavam a paz, o amor e a plenitude.
Compreendi que nossa vibração é coletiva. Quando a maioria das pessoas vibra em medo, preocupação, tristeza, culpa ou inveja, o campo energético — essa malha que vi — se torna denso e desequilibrado. Isso atrai seres que se alimentam dessa energia, e acabamos presos em comportamentos que dão prazer imediato, como consumo excessivo, vaidade e alimentação desequilibrada. Isso nos afasta ainda mais da vibração elevada e nos prende a planos de energia mais baixos. Por isso é tão importante nos reconectarmos com a natureza, a Terra e os alimentos puros.
Em outro momento, senti que o som dos ícaros estava desprendendo algo pesado, como se fosse um corpo antigo e morto que eu carregava há muito tempo. Essa energia se descolava suavemente, sem dor, apenas o que precisava sair. Era como assoprar um tecido cheio de areia e vê-la se dissipar. Senti que estava liberando mágoas, frustrações, angústias e medos acumulados.
Vi também que todos nós éramos casulos de borboletas, nos transformando em seres belos e coloridos — uma cena de pura beleza e transformação.
Em outro momento, percebi o Shipibo como um ser elemental, parte da natureza, com corpo de tronco de árvore. Quando ele assoprou o mapacho sobre minha cabeça, senti a presença da Grande Mãe entrando em mim. Foi um instante de glória e êxtase — minha alma em festa, em estado de plenitude total.
Por fim, durante um ícaro, senti a presença de um caboclo amigo. Ele me pediu que mantivesse a coluna ereta e a cabeça erguida — firme e suave ao mesmo tempo. Disse que essa postura deveria me acompanhar na vida, como uma guerreira diante dos desafios.”

















